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25 de janeiro de 2015

Sergio Moro e o perigo dos holofotes

Autor: Miguel do Rosário

moro
Estou fazendo um grande esforço para não deixar minha imaginação achar que a mídia, em conluio com setores golpistas incrustados no Estado, irá conseguir, novamente, transformar uma ação penal importante numa conspirata política.
Como fizeram com a Ação Penal 470, vulgo mensalão. Poderia ter sido uma ação esclarecedora para o Brasil mudar, de uma vez por todas, o sistema de financiamento eleitoral.
Preferiram transformar tudo num circo e promover inúmeras inovações penais, sempre em detrimento das defesas.
Parece que estão fazendo a mesma coisa com a Lava Jato.
A tática de apenas manter os acusados em prisão preventiva por tempo indeterminado, num sistema penal que tem presídios ainda associados à ideia de masmorras medievais, recupera a estratégia da tortura, mais recentemente usada em Guantanamo pelos EUA.
Estão fazendo na Lava Jato a mesma coisa que os americanos fazem Guantanamo. Prendem sem acusação formal e mantêm o sujeito encarcerado até que ele delate alguma coisa. Qualquer coisa.
Quer dizer, não exatamente qualquer coisa.
Os presos, que não são idiotas, não precisam de muito tempo para entender o jogo.
Tem que denunciar alguém ligado ao governo. Só assim serão bem recebidos por uma mídia terrivelmente agressiva, que persegue a família inteira do sujeito se ele não dançar conforme a música.
Contra todas as evidências, tento acreditar que não vão envenenar novamente a democracia com táticas penais e investigatições fascistoides, mas está difícil.
A situação lembra em muito o filme Z, de Costa Gravas, que conta exatamente essa história. Uma investigação que vai se desvirtuando, e, apesar de toda a aparência legal, se transforma numa insidiosa operação antidemocrática e golpista.
Minhas esperanças sofreram novo abalo hoje, ao saber que a Globo dará o Prêmio Faz Diferença a Sergio Moro. E que, pelo visto, ele já aceitou receber.
Esse prêmio é um acinte à democracia.
Um Judiciário isento não pode aceitar prêmios do setor privado, ainda mais de uma empresa de comunicação cujos proprietários são a família mais rica do Brasil. Poder e dinheiro consolidados na ditadura, e mantidos pelo regime de monopólio constituído nos anos de totalitarismo.
Uma empresa que usa seu jornalismo como ferramenta de poder com vistas a defender seus próprios interesses políticos e econômicos.
O Judiciário precisa tomar cuidado com os holofotes.

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