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10 de dezembro de 2011

Ney Matogrosso e "Metamorfoses" (Liberté - 3/70)

E em termos comportamentais, como foi essa década para você? Anos 90 deixaram alguma marca forte?

Ney: Não. Anos 80 deixou mais, né? O rock brasileiro. Vem cá, a gente também tem que colocar em questão a aids, né? Porque nós vivíamos um momento de grande expansão de liberdades, embora dentro da ditadura, mas existia uma liberação sexual, comportamental, que eles não podiam controlar. A aids veio e cortou isso pela raiz. Não cortou e não parou: regrediu. Deu dois passos para trás, e aí o que comandou? O que comandou foi a grana, os yuppies _essa coisa econômica que é isso aí, é tudo uma caretice. E hoje nós vivemos em um país que é mais careta que nos anos 70.

Não me acomodo para mim mesmo, sabe? Essa falta de acomodação não é para satisfazer as pessoas. É para me satisfazer.
Valor: Você tem acompanhado os recentes casos de agressões contra gays, por exemplo? 

Ney: As pessoas estão ficando mais burras e mais agressivas. Tem que haver lei para botar cada qual no seu lugar. Tem que haver leis contra a homofobia. 
Valor: Há mais violência hoje ou apenas maior divulgação sobre esses casos?
Basta você ligar a televisão todos os dias que você vê de cara uma enxurrada de notícias ruins. Sabe o que acontece? Eu desligo a televisão.
Ney: O Zé Celso me fez uma proposta que me deixou superexcitado, mas eu não podia aceitar. Eles vão para Europa com “As Bacantes”, e ele pensou em mim para fazer a rainha. Achou que, pelo meu timbre de voz, eu poderia fazer.
(...) Espero que meu ponto de vista acrescente algo a algumas pessoas e facilite passar por esse trânsito que a gente está vivendo. E é isso. Não pretendo muito mais que isso não.
Meu  comentário:
Que pena que não tenha sido possível ao Ney participar de "As Bacantes". Iria ficar bárbaro. Fazer o que né.
"Fui morar num casebre dentro dessa mata. Então me lembro apenas disso. Não sei de que maneira nada me influenciou."
Lembro-me que nesta época do sequestro da grana das pessoas pelo Collor, o Ney ficou sem um centavo no bolso, li uma reportagem sobre isso, aos poucos ele foi recuperando, parece-me que naquele momento ele havia encerrado o "Seu Tipo", que fez muito sucesso. Sem grana, ficou num mato sem cachorro e teve que começar do zero novamente.  Lembro-me perfeitamente como foi seu recomeço pós-Collor. Ele(Ney) esteve em Goiânia para cantar num bar de umas amigas, estas apresentações informações, sem muita pretensão. Um amigo que trabalhava como recepcionista do Hotel Papilon, onde o cantor encontrava-se hospedado,  comentou com o próprio mais ou menos isso " Ney,  as pessoas estão comentando sua apresentação dessa noite. Os hóspedes estão comentando. As pessoas adoraram". Estou relatando isso porque presenciei esta conversa entre o meu amigo, o Félix e o Ney. Fui encontrar-me com o Ney para lhe entregar coisas aqui da terra, umas sementes de árvores e uns instrumentos que imitavam pássaros. Não demorou muito tempo aquela simples apresentação virar num grande  show, o A Flor da Pele, com Raphael Rabello, postei um video lá embaixo. 
Aos 70 anos a tendência é a pessoa se aposentar e, como diz Raul Seixas, ficar num apartamento de boca escancarada esperando a morte chegar.
Ney está muito lúcido como sempre. Respondeu na bucha. De fato os anos 80 foram de grande liberdade. A caretice começou nos anos 90, foi aumentando e continua se acentuando. Nem preciso citar os nomes dos líderes que comandam isso.
Parabéns ao Bruno Yataka Saito pela entrevista. Muitos repórteres se perdem em frivolidades ao entrevistar Ney. Gostei da entrevista.

Retificação:

Errei ao constar que por ocasião do sequestro de ativos por Collor o Ney havia acabado de encerrar o show "Seu Tipo". Nada a ver. Este show é do final da década de 70! Ele havia terminado sim, a excursão com o "Ney Matogrosso ao Vivo",  onde ele intepretava "Homem com H", acrescentei o video para tirar qualquer dúvida.


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