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3 de fevereiro de 2014

Menores infratores são soltos por falta de vagas em Goiás, diz juiza


Ela revela que centros de internação do estado não atendem a demanda.
Governo diz que teve reunião com MP buscando soluções para o problema.

Do G1 GO, com informações da TV Anhanguera
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Menores que cometeram crimes graves estão sendo liberados em Goiás devido a falta de vagas em centros de internação para abrigá-los. A afirmação é da juíza da Infância e da Juventude de Aparecida de Goiânia, Stefane Fiúza Cançado Machado. Em todo o estado, existem apenas 372 vagas.
"Os centros de internação provisória [CIP] e também definitivos do estado de Goiás não têm atendidos as requisições de vagas para a internação desses adolescentes. Até hoje, perdura essa situação de por várias vezes termos que liberar esses adolescentes que não devem se liberados", revela a magistrada.
Pela lei, quando apreendido, o menor pode ficar em uma cela comum por no máximo cindo dias. Um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) chegou a ser assinado entre o Ministério Público de Goiás (MP-GO) e o governo do estado para aumentar o número de vagas. Porém, o prazo, que era de 15 meses, venceu em novembro de 2013.
Na própria cidade onde fica o juizado de Stefane, a situação é bastante crítica. Apesar de ser o segundo maior município de Goiás, com mais de 500 mil habitantes, Aparecida de Goiânia não tem uma vaga sequer para menores infratores.
A única cela que pode receber menores na cidade fica no 1º DP, mas está sempre em condições insalubres. São apenas quatro vagas, mas ela está sempre lotada. Há lixo e restos de comida espalhados porque o local só é limpo duas vezes na semana porque não há funcionários suficientes.
Casos recorrentes
Enquanto o problema não é resolvido, os casos de crime praticados por menores só aumenta. Na noite de segunda-feira (27), quatro adolescentes - sendo um de apenas 12 anos - já conhecidos da polícia foram apreendidos com um carro sem documento e placas de outro estado. Eles tentaram fugir e após troca de tiros e perseguição, o veículo bateu em um muro.
"É uma situação complexa porque a gente vai falar sobre legislação, que está defasada, como a população já sabe. Mas nós vamos continuar fazendo nosso trabalho até quando a gente dar conta", reclama sargento da PM Ivan Nunes.
Juíza diz que menores infratores são soltos por faltas de vagas em Aparecida de Goiânia, Goiás (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Cela no 1º DP cheia de comida espalhada: limpeza 2 vezes na semana (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Já na semana passada, uma mulher foi vítima de um arrastão dentro de casa. Ainda traumatizada, ela fala sobre o roubo e os momentos de medo causados por dois menores.
“Aí ele pegou todo mundo, trancou no banheiro e ficou fazendo ameaça. Se chamasse a polícia, se prendesse eles quando eles saíssem, matava todo mundo. Eu tô em pânico, não durmo mais, nem sinto fome”, recorda a mulher que não quis se identificar.
Segundo a juíza Stefane Machado, os suspeitos de praticar o crime só não foram soltos nesta terça-feira (28) porque o caso ganhou repercussão na imprensa. Em outros casos, acredita ela, a situação seria diferente.
"Hoje [terça-feira] faz nove dias que eles estão internados e só ontem de tardezinha é que liberaram as vagas. Eles ainda estão no 1º DP de Aparecida aguardando a PM para encaminhá-los ao CIP em Goiânia”, destaca.
A delegada Marcela Orçai, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Aparecida de Goiânia, afirma que são cada vez mais frequentes a participação de menores em delitos graves.
“Percebemos que muitas vezes eles estão sendo aliciados por maiores para praticar atos mais violentos. Eles são como se fossem o exército de frente, os que estão praticando os atos mais graves, tendo que vista que receberão uma reprimenda menor”, explica.
Juíza diz que menores infratores são soltos por faltas de vagas em Aparecida de Goiânia, Goiás 2 (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)Para juíza, menores só conseguiram vagas por causa de repercussão (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Respostas
Em nota, a Secretaria de Cidadania e Trabalho do Estado de Goiás (SECT) informou que o presidente do Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente, André Luís Gomes Schroder passou a manhã reunido com representantes do MP buscando alternativas para resolver a questão.
A nota diz ainda que o governo está investindo nas reforma e ampliação dos Centros de Apoio Sócio Educativo (Case). As unidades de LuziâniaItumbiaraPorangatu e Formosa já estão prontas. Em Anápolis, a obra está sendo licitada e em Goiânia, uma ampliação irá disponibilizar mais 22 vagas.
Sobre o TAC, a nota explica que foi pedido um prorrogamento do prazo inicial, que era agosto de 2012, porque as obras são consideradas complexas.
Por fim, a SECT diz evoca o artigo 49 da lei 15.594/2012, que estabelece que os adolescentes podem sim cumprir a medida em regime aberto caso não haja vagas para a internação. A exceção se aplica em casos graves, com uso de violência ou ameaça contra as pessoas.

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